ATÉ AQUI NOS AJUDOU O SENHOR!

BENDITO SERÁS AO ENTRARES,
BENDITO SERÁS AO SAIRES!!!!!

domingo, 31 de maio de 2015

Carmelita
de Max Lucado
O ar quente pairava pesado na pequena capela do cemitério. Os que tinham leques usavam-nos para refrescar-se. Havia muita gente. As poucas cadeiras colocadas foram logo ocupadas. Eu encontrei um canto vazio de um lado e fiquei ali de pé, observando meu primeiro funeral brasileiro.
Sobre suportes no meio da capela tinha sido colocado o caixão e nele o corpo de uma mulher morta num acidente deCARRO na véspera. O nome dela era Dona Neusa. Eu a conhecia por ser mãe de um de nossos primeiros convertidos, Cesar Coutinho. Ao lado do caixão: Cesar, sua irmã, outros parentes e alguém muito especial com o nome de Carmelita.
Ela era uma mulher alta, de pele escura, quase negra. Naquele dia seu vestido era simples e seu rosto solene. Ela olhava fixamente para o caixão com seus olhos castanhos e fundos. Havia algo de nobre na maneira como ficava ali de pé ao lado do corpo. Ela não chorava aberta-mente como os demais. Nem procurava consolo com os outros enlutados. Ela só ficou ali, curiosamente quieta.
Na noite anterior eu acompanhara Cesar na delicada missão de contar a Carmelita que Dona Neusa morrera. Enquanto nos dirigíamos para a casa dela, ele explicou-me como Carmelita fora adotada em sua família.
Mais de vinte anos antes, a família de Cesar visitara uma pequena cidade no interior do Brasil. Eles encontraram ali Carmelita, uma órfã de sete anos, vivendo com parentes pobres. A mãe dela tinha sido uma prostituta. Ela nunca conhecera o pai. Depois de ver a criança, Dona Neusa sentiu-se comovida, sabendo que se não interferisse, a pequena Carmelita estava condenada a uma vida sem amor nem atenção. Por causa da compaixão de Dona Neusa, Cesar e sua família voltaram para casa com um novo membro.
Enquanto eu me encontrava ali na capela funerária e olhava para o rosto de Carmelita, tentei imaginar as suas emoções. Como a vida dela tinha mudado. Fiquei pensando se a sua mente revivia as lembranças da infância quando subira numCARRO e se afastara para viver com uma família estranha. Num momento ela não tinha amor, um lar, nem um futuro; no momento seguinte obtivera essas três coisas.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo ruído de pés se arrastando. O velório terminara e as pessoas deixavam a capela para assistir ao enterro. Por causa de minha posição, bem no canto do prédio, fui o último a sair. Ou pelo menos pensei que fora. Enquanto andava ouvi uma voz suave atrás de mim. Voltei-me e vi Carmelita chorando silenciosamente ao lado do caixão. Comovido, parei na porta da capela e assisti o seu tocante "adeus". Carmelita estava sozinha pela última vez com sua mãe adotiva. Havia sinceridade em seus olhos. Era como se ela tivesse uma tarefa final a cumprir. Ela não se lamentou em voz alta, nem gritou de dor. Simplesmente inclinou-se sobre o caixão e o acariciou ternamente como se fosse o rosto da mãe. Com lágrimas silenciosas caindo sobre a madeira polida ela repetiu várias vezes, "Obrigada, obrigada".
Uma despedida final de gratidão.
Ao voltar para casa pensei que nós, de muitas formas, somos como Carmelita. Nós também somos órfãos amedrontados. Nós também não tínhamos nem ternura nem aceitação. E nós também fomos resgatados por um visitante compassivo, um pai generoso que nos ofereceu uma casa e seu nome.
Nossa resposta deveria ser exatamente a mesma de Carmelita, uma reação comovente de gratidão sincera pela nossa libertação. Quando ninguém mais daria por nós nem sequer o tempo de um dia, o Filho de Deus nos deu o tempo de nossa vida!
Nós também deveríamos nos colocar na companhia silenciosa daquele que nos salvou, e chorar lágrimas de gratidão, oferecendo palavras de agradecimento. Pois não foram nossos corpos que ele resgatou, mas nossas almas.
A Sede Satisfeita
de Max Lucado
"MAMÃE, ESTOU COM MUITA SEDE. QUERO ÁGUA!"
Susanna Petroysan ouviu o pedido de sua filha, mas não podia fazer nada. Ela e sua filha de quatro anos, Gayaney, estavam debaixo de toneladas de aço e concreto. Ao seu lado, no escuro, estava o corpo da nora de Susanna, Karine, uma das 55 mil vítimas do pior terremoto na história da Armênia.
A calamidade nunca bate antes de entrar e, dessa vez, ela derrubou a porta.
Susanna tinha ido à casa de Karine provar um vestido. Era 7 de dezembro de 1988, 11h30 da manhã. O tremor de terra ocorreu às 11h41. Ela havia tirado o vestido e estava apenas de meias e anágua quando o quinto andar do edifício começou a tremer. Susanna agarrou sua filha e deu apenas alguns passos quando o piso se abriu e elas caíram. Susanna, Gayaney e Karine caíram no subsolo do prédio de nove andares, cercadas de escombros.
"Mamãe, eu estou com muita sede. Por favor, me dê alguma coisa para beber!"
Não havia nada que Susanna pudesse fazer.
Ela estava deitada debaixo dos escombros. Uma viga de concreto sobre sua cabeça e um cano d'água sobre os ombros a impediam de se levantar. Tateando no escuro, ela encontrou um pote de geléia que havia caído no porão. Ela deu toda a geléia para sua filha comer. Já havia passado o segundo dia.
"Mamãe estou com muita sede!"
Susanna sabia que ia morrer, mas queria pelo menos poder salvar sua filha. Encontrou um vestido, talvez fosse aquele que viera provar, e improvisou uma cama para Gayaney. Apesar de estar fazendo muito frio, ela tirou suas meias e as colocou sobre sua filha para aquecê-la.
As duas ficaram ali durante oito dias.
Por causa da escuridão Susanna perdeu a noção do tempo. Por causa do frio, perdeu a sensibilidade dos dedos das mãos e dos pés. Por causa dessa impossibilidade de se mover perdeu a esperança. "Eu estava apenas esperando a morte chegar!"
Ela começou a ter alucinações. Seus pensamentos vagueavam. De vez em quando um sono providencial a livrava dos horrores do sepultamento: o frio, a fome, ou, mais freqüentemente, a voz de sua filha.
"Mamãe, estou com sede."
Em algum ponto daquela noite eterna Susanna teve uma idéia. Ela se lembrou de um programa de televisão em que um explorador do Ártico estava morrendo de sede. Seu companheiro deu um corte profundo na mão e deu seu próprio sangue para ele beber.
"Eu não tinha água, nenhum suco de fruta, nenhum líquido. Foi aí que me lembrei que tinha meu próprio sangue!"
Tateando com os dedos dormentes de frio, encontrou um pedaço de vidro quebrado. Abriu com ele o dedo polegar da mão esquerda e o deu para sua filha chupar.
As gotas de sangue não eram suficientes, "Por favor, mamãe, um pouco mais. Corte outro dedo." Susanna não se lembra de quantas vezes teve que se cortar. Ela sabe apenas que, se não houvesse feito isto antes, Gayaney teria morrido. Seu sangue era a única esperança de sua filha.
"Este cálice é o novo pacto em meu sangue", explicou Jesus, apontando para o vinho.[1]
Esta afirmação deve ter causado admiração aos apóstolos. Eles haviam aprendido a história do vinho da Páscoa. Ele simbolizava o sangue do cordeiro com que os israelitas, escravos do Egito no passado, haviam pintado os umbrais das portas de suas casas. Aquele sangue guardou seus lares da morte e salvou seus primogênitos. Ele os ajudou a se livrar do cativeiro egípcio.
Por muitas gerações, os judeus observaram a Páscoa, sacrificando um cordeiro. Todo ano o sangue era derramado, e todo ano o livramento era celebrado.
A lei exigia o sangue de um cordeiro. Isto era suficiente.
Era suficiente para cumprir as exigências da lei. Era bastante para atender ao mandamento. Era suficiente para atender à exigência da justiça de Deus.
Mas não era suficiente para retirar o pecado.
"... porque é impossível que o sangue de touros e de bodes tire pecados."'[2]
Os sacrifícios podiam oferecer soluções temporárias, mas somente Deus pode oferecer solução eterna.
Assim Ele o fez.
Debaixo dos escombros de um mundo decaído, Ele feriu suas mãos. Nos destroços de uma humanidade Ele feriu o seu lado. Seus filhos estavam soterrados, então ele lhes deu seu próprio sangue.
Era tudo o que ele tinha. Seus amigos tinham desaparecido. Suas forças estavam diminuindo. Seus bens haviam sido roubados. O próprio Pai lhe havia escondido o rosto. Seu sangue era tudo o que tinha. Mas seu sangue foi suficiente.
‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba’[3]
Não é fácil admitir que temos sede. Fontes falsas aclamam nossa sede com goles açucarados de prazer. Mas chega o momento em que o prazer não satisfaz. Vem a hora tenebrosa da vida em que o mundo cai e somos soterrados nos escombros da realidade, chamuscados e moribundos.
Alguns preferem morrer a admitir que têm sede. Outros admitem e escapam da morte.
"Senhor, eu preciso de ajuda!"
Por isso os sedentos vêm. Somos um grupo de esfarrapados, unidos por sonhos irrealizados e promessas fracassadas. Riquezas que nunca acumulamos. Famílias que nunca construímos. Promessas que nunca cumprimos. Crianças de olhos arregalados soterradas no subsolo de nossos próprios fracassos.
Estamos com muita sede.
Não é sede de fama, riqueza, paixão ou romance. Já bebemos de tudo isto. São águas amargas no deserto. Elas não matam a sede - elas matam a nós.
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça..."
Justiça. Isto mesmo. É disto que temos sede. Temos sede de uma consciência tranqüila. Desejamos uma vida limpa. Queremos um novo começo. Pedimos que uma mão entre na escura caverna de nosso mundo e faça por nós uma coisa que não podemos fazer — tornar-nos retos novamente.[4]
"Mamãe, estou com sede", rogava Gayaney.
"Foi aí que me lembrei que tinha meu próprio sangue", explicou Susanna.
E, então, o dedo foi cortado, o sangue foi derramado e a criança foi salva.
"Deus, estou com sede", oramos.
"Isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados",[5] declara Jesus.
E sua mão foi ferida,
o sangue derramado,
e os filhos foram salvos.

"Esse é o Deus que eu amo"!